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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Como pode um Deus bom permitir isso?




Se alguém ferir a seu servo, ou a sua serva, com pau, e morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado; Porém se sobreviver por um ou dois dias, não será castigado, porque é dinheiro seu. 
Êxodo 21:20-21

Exposição

Um erro grave na tentativa entender os atos divinos através de críticas ao velho testamento é desconsiderar que tais textos foram escritos no 2º e 1º milênios antes de Cristo e comparar com a atualidade. Há determinadas situações que Deus permite (não ordena) em virtude das condições e práticas que o povo estava mergulhado após mais de 400 anos de convívio com o povo Egípicio . Por exemplo:

Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Mateus 19:3-8. (Grifo nosso)

O que essa passagem nos mostra é que no principio da criação Deus criou o homem e a mulher para si unirem e respeitarem. A permissão da carta de divórcio foi em virtude da dureza de coração dos homens da época. É importante enfatizar que era uma permissão por que nos textos de Deuteronômio 22 e 24, que tratam sobre esse assunto, o homem poderia, se quisesse, permanecer com a sua esposa que havia fornicado. Um dos tropeços que os fariseus queriam impor a Jesus era afirmar que Moises ordenou, e isso tinha implicações para as escolas doutrinárias hillel e jamel; caso Jesus tomasse partido de algumas delas era a oportunidade que os fariseus esperavam para ter do que acusá-lo. Prontamente o Mestre corrigiu mostrando que Deus permitiu, mas Sua intenção na criação não era essa. Intenção essa que seria restaurada com a vinda do Cristo, nas próprias palavras desse, citadas acima.

Semelhantemente, podemos inferir do caso dos escravos. Não somente em virtude do texto acima. Mas, principalmente, pelos próprios textos acerca da escravidão na antiguidade e o modo como Deus conduziu aquela prática entre hebreus. Na criação, Deus não propôs escravidão entre os homens. Porém, ao longo dos séculos tornou-se prática comum entre os povos em redor, o diferencial entre os hebreus era, justamente, a misericórdia.  Ao retirar o povo do Egito Deus trataria todos os desvios de conduto, mas cada coisa há seu tempo. Deus não exigiria além do que eles poderiam dar, no entanto não deixou o povo sem orientação.

Vejamos seis proposições a esse respeito:

1º Na lei mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era um crime punido com pena capital (Êxodo 21:16).

E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto. 
Êxodo 21:16

2º Um escravo hebreu deveria trabalhar apenas seis anos para pagar sua dívida, sendo liberto no sétimo ano sem pagar nada (Êx 21:2).

Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça. 
Êxodo 21:2

3º Além disso, ele deveria receber de seu proprietário alguns animais e alimentos para começar a vida novamente (Deuteronômio 15:13, 14).

E, quando o deixares ir livre, não o despedirás vazio.
Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR teu Deus te tiver abençoado lhe darás. 
Deuteronômio 15:13-14

4º Durante seu período de serviço, o(a) escravo(a) teria um dia de folga semanal, o sábado (Êxodo 20:10).

Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. 
Êxodo 20:10

5º Percebemos bem a diferença de tratamento de escravos quando comparamos as diretrizes bíblicas com o famoso Código de Hamurabi, rei de Babilônia, no 18º século a.C. Se algum escravo fugisse, ele deveria ser morto; enquanto que, em Israel, esse escravo deveria ser protegido (Deuteronômio 23:15, 16). Proteger um escravo fugitivo, em Babilônia, era uma grande ofensa, também punida com morte, como evidenciado nas leis 15-20 do referido código.
15. Se alguém tomar um escravo homem ou mulher da corte para fora dos limites da cidade, e se tal escravo homem ou mulher, pertencer a um homem liberto, este alguém deve ser condenado à morte.
16. Se alguém receber em sua casa um escravo fugitivo da corte, homem ou mulher, e não trouxe-lo à proclamação pública na casa do governante local ou de um homem livre, o mestre da casa deve condenado à morte.
17. Se alguém encontrar um escravo ou escrava fugitivos em terra aberta e trouxe-los a seus mestres, o mestre dos escravos deverá pagar a este alguém dois shekels de prata.
18. Se o escravo não der o nome de seu mestre, aquele que o encontrou deve trazê-lo ao palácio; uma investigação posterior deve ser feita, e o escravo devolvido a seu mestre.
19. Se este alguém mantiver os escravos em sua casa, e eles forem pegos lá, ele deverá ser condenado à morte.
20. Se o escravo que ele capturou fugir dele, então ele deve jurar aos proprietários do escravo, e ficar livre de qualquer culpa. (Código de Hamurabi)
***
Não entregarás a seu senhor o servo que, tendo fugido dele, se acolher a ti;
Contigo ficará, no meio de ti, no lugar que escolher em alguma das tuas portas, onde lhe agradar; não o oprimirás. 
Deuteronômio 23:15-16
6º Tanto nos apócrifos como no Talmude – tipo de Torah oral do povo judeu, é ordenado aos senhores que tratem com bondade os seus servos.
Ocupa-o no trabalho, pois é o que lhe convém. Se ele não obedecer, submete-o com grilhões, mas não cometas excessos, seja com quem for, e não faças coisa alguma importante sem ter refletido. Se tiveres um escravo fiel, que ele te seja tão estimado como tu mesmo. Trata-o como irmão, porque foi pelo preço de teu sangue que o obtiveste. Se o maltratares injustamente, ele fugirá; se ele for embora, não saberás a quem perguntar, nem onde deverás procurá-lo.
Eclesiástico 33.30-33

... O que fica claro que o tratamento que era dado aos escravos, entre o povo judeu, era diferenciado sendo possível que, o alforriado, optasse por permanecer servo.
Mas se aquele servo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e a meus filhos; não quero sair livre. Então seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta, ou ao umbral da porta, e seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre. 
Êxodo 21:5-6
Conclusão
A leitura pura e simples de um único versículo pode e, frequentemente, nos conduz a interpretações erradas e parciais. Ao acolher outros textos que tratam do assunto podemos deduzir que:
  • A escravidão entre hebreus era motivada por divida não quitada;
  • Eles mais que qualquer outro povo deveria entender os princípios de misericórdia, afinal, viveram mais de quatrocentos anos cativos;
  • A visão de servidão não é igual à praticada em outras nações, tão pouco o que conhecemos aqui no Brasil*, em termos de trabalho escravo;
  • Cumprido o período de pagamento de débitos o servo deveria ser libertado e ser provido pelo seu senhor de meios para recomeçar a sua vida (visão ainda deficiente no sistema prisional brasileiro, por exemplo);
  • O senhor não tinha permissão para maltratar e, se este servo viesse a fugir por causa de maus tratos, o dono não deveria buscá-lo, tão pouco a pessoa que sabia de seu paradeiro deveria entregá-lo;
  • A permissão para o uso da força com o servo se dava para o fim de alguma correção de conduta, e que está não deveria ser desmesurada, conforme explanação acima.
Finalmente, concluímos que ter servos era uma prática comum e que Deus não deixou seu povo sem orientação acerca disso também. Porém, com o advento do Cristo, todo o seus desígnios iniciais seriam restaurados. E o amor fraternal é uma das primícias do Cristianismo.
* http://reporterbrasil.org.br/2006/09/brasil-do-seculo-xxi-trabalho-escravo-sem-punicao/
SITEGRAFIA

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